Filomena Embaló
Nació en Angola en 1956, de padres caboverdianos. Estudió Ciencias Económicas y en 1975 se trasladó a Guinea Bissau, donde ejerció diversos cargos la Administración pública.
Es autora de la novela Tiara (1999) y el libro de relatos Carta aberta (2005). Coração cautivo, su primer libro de poemas, se publicó en 2008.
LOS AMOS DEL MUNDO
Vinieron
Se lo llevaron todo
El sueño
La esperanza
La vida
Hasta la realidad barrieron
Y en la confusión de la huida
El vacío arrancaron
Por miedo a que engendrase
Los genes de la vida
La luz
Y sus gestos
Denunciasen
Ellos…
Los amos del mund
Ahogaron el sueño
Ahorcaron la esperanza
Apagaron la vida
Con un soplo
Un chasquido de dedos
Un altivo encogimiento de hombros …
Señores de todos los
Destinos
Intocables
En sus torres de cristal
Robadas al sudor ajeno
Vinieron
Se llevaron todo
La risa
El llanto
El aliento
Hasta los rostros desfigurados
Por el dolor
Y en la confusión de la huida
Arrancaron los ojos
Para que no los viesen
Y los condenasen
Ellos…
Los amos del mundo
Capturaron la risa
Amarraron el llanto
Asfixiaron el aliento
En un gesto loco
De un restallar de látigo
La mirada altiva…
Dioses del universo
Señores de todos los
Destinos
Decidiendo la vida y la muerte
Vinieron
Se llevaron todo
La dignidad
La modestia
La honestidad
Hasta el pensamiento
Vaciaron
Y en la confusión de la huida
La conciencia perdieron
Porque no aguantaban su peso
Ellos…
Los amos del mundo
Violaron la dignidad
Enterraron la modestia
Vendieron la honestidad
En un abrir y cerrar de ojos
Como en un truco de magia
El semblante altivo…
Señores absolutos
Invirtieron la escala de valores
A la luz de su propia imagen
Vinieron
Se llevaron todo
El pan de la boca del hambriento
El techo del que no tenía casa
Hasta la Historia apagaron
Dejando apenas tras de sí
Humillación
Impotencia
Revuelta
Que el pueblo en el dolor ahoga
Por no poseer armas iguales
Para combatir tal violencia
Que de igual
Solo tiene el odio
Fruto mudo de la furia destructora!
Ellos…
Los amos del mundo
Criminales impunes
Con la conciencia tranquila
La barriga repleta de ganancias
El pecho hinchado de razón
De una legitimidad usurpada
Inconscientes de su propia ignorancia!!!
*Traducción de Mario Grande.
http://traducciones.lagallaciencia.com/
OS MESTRES DO MUNDO
Vieram
Levaram tudo
O sonho
A esperança
A vida
Até a realidade varreram
E na azáfama da fuga
O vazio arrancaram
Com medo que engendrasse
Os genes da vida
A luz
E os seus gestos
Denunciassem
Eles...
Os mestres do mundo
Afogaram o sonho
Enforcaram a esperança
Apagaram a vida
Com um sopro
Um estalar de dedos
Um sacudir de ombros altivo...
Senhores de todos os
Destinos
Intocáveis
Nas suas torres de cristal
Roubadas ao suor alheio
Vieram
Levaram tudo
O riso
O pranto
O fôlego
Até os rostos desfigurados
Pela dor
E na azáfama da fuga
Os olhos arrancaram
Para que não os vissem
E os condenassem
Eles...
Os mestres do mundo
Prenderam o riso
Amarraram o pranto
Asfixiaram o fôlego
Num gesto louco
De um estalar de chicote
O olhar altivo...
Deuses do universo
Senhores de todos os
Destinos
Decidindo a vida e a morte
Vieram
Levaram tudo
A dignidade
A modéstia
A honestidade
Até o pensamento
Esvaziaram
E na azáfama da fuga
A consciência perderam
Por não lhe suportarem o peso
Eles...
Os mestres do mundo
Violaram a dignidade
Enterraram a modéstia
Venderam a honestidade
Num abrir e fechar de olhos
Como num truque de magia
O semblante altivo...
Senhores absolutos
Inverteram a escala de valores
À luz da própria imagem
Vieram
Levaram tudo
O pão da boca do faminto
O tecto do desabrigado
Até a História apagaram
Deixando apenas no seu rasto
Humilhação
Impotência
Revolta
Que o povo na dor afoga
Por iguais armas não possuir
Para combater tal violência
Que de igual
Só tem o ódio
Fruto mudo
Da fúria destrutiva!
Eles...
Os mestres do mundo
Criminosos impunes
De consciência tranquila
Barriga farta de ganância
O peito inchado de razão
De uma legitimidade usurpada
Inconscientes da própria ignorância!!!
IDENTIDADE
Busco raízes profundas
no sangue das Ilhas
a semente germinada
em terras fartas do Maiombe
a flor desabrochada
nas Colinas do Boé
e encontro
os caminhos cruzados do meu eu!
Caminhos de ontem
caminhos de hoje
horizontes infindos
que fazem do meu eu
o Ser de Amanhã
Caminhos cruzados do meu eu
trilhados por riquezas sem fronteiras
criastes um Ser
que é ele
o outro
e sou eu!
- Bruxelas, 15/3/93
O menino ganhou a guerra
Juro que não sonhei
Vi com os meus olhos
O menino ganhou a guerra !
Matou o monstro da fome
Com a arma da comida
Sentou-se à mesa da Paz
Sua barriga fartou
Fartou também seu coração
Por saber farto o amanhã
E no acalento da fome
A barriga desinchou
Os olhos voltaram a sorrir
A esp’rança sorria no seu rosto
O menino ganhou a Guerra!
Paris, 20/12/02
Sonho Infinito
Trouxa ao ombro
Lá vai o Passado
Costas vergadas
Carga pesada
Ignorância
Miséria
Guerras
E Fome
Partiu para longe
Destino sem fim
Longe do Homem
Tão massacrado há anos mil!
Caminha, caminha
O passo arrastado
Cruza o Futuro
De passo apressado
Ligeira, ligeira a sua carga
Sabedoria
Abastança
Saciedade
E paz
Caminha, caminha
O passo ligeiro
Espera-o o Homem
Encontro marcado há anos mil!
Paris, Dezembro de 2003
ACRÓNIMO
Esperança acalentaste
Num futuro risonho
Terra Mãe – Filha de África
Em tuas entranhas
Ressuscitaste o sonho
Razão do teu viver
Armaste teus filhos
Rumo à liberdade
Acreditaste na vitória
Mas os ventos mudaram
Os homens também...
Sem escrúpulos nem pejo
O teu sonho derrubaram
Num cíclico jogo de armas
Honrado seja o teu nome
Oh! Pátria mil vezes violada
De onde vem tanto ódio
Entre teus filhos amados?
Corre o sangue derramado
Abrem feridas mal saradas
Bate em teu peito a chamada
Recobre as forças Terra – Mãe
Ainda é longa a caminhada
Levanta-te Guiné e desenterra o teu sonho!
Charenton le Pont 19/10/04
DESILUSÃO
Abate sobre mim
O peso angustiante
De esperança perdida
Da crença desmentida
Desmorona-se o mundo de sonhos
Alicerçado em ideias juvenis
Que o correr da vida
Transformou em utopia
Nego-me a engolir
O nó da desilusão
Que me estrangula
Me sufoca
Nego a entregar-me
A esse pranto vencido
Que me invade o peito
Me deixa muda
Estupefacta
Impotente!
Reservo-me o direito de acreditar
Que se sonho existe
Se sonho existe
É o pesadelo em que me encontro!
Bissau, 27/05/93
NEM BOTAS NEM CANHÕES
Trago no corpo
as marcas da vida
No coração
Os sonhos abortados
Na pele as chagas do sofrimento
Meus olhos cegaram
De tanta dor enxergarem
Meus ouvidos ensurdeceram
Com o choro da criança faminta
Minha boca se calou
Para não mais clamar minha dor
Mas no âmago do meu ser
Na minha essência mais profunda
Guardei a força do querer
E nem ventos nem marões
Nem botas nem canhões
Nem sórdidas tentações
Minha marcha travarão
Sigo em busca da verdade
Novos sonhos brotarão
Novos mundos se abrirão
Em cada riso de criança acalentada
Colherei um pedaço de vitória
E de riso em riso
De vitória em vitória
Se vai edificando um mundo melhor!
SALVÉ O DIA 15 DE AGOSTO
Pelas tuas primaveras
Aqui vamos celebrar
Reservei o melhor champanhe
A festa vai começar!
Brindo eu, brindamos todos
É festa ó minha gente!
Não venham cá com tristezas
Só alegria pode entrar!
Digam lá o que quiserem
Isto é mesmo de arrombar
Didinho faz anos hoje
Impossível ignorar!
Ninguém daqui arreda pé
Há bolo com velas e tudo
Oh! Didinho vem assoprar !
Feliz aniversário, querido Amigo,
que habitem sempre em ti a crença, a força e o entusiasmo
que te movem nesta luta por uma Guiné justa e próspera!
15.08.2010
Decadência
a acácia murchou
Secou
As pétalas caíram uma a uma
Sublimaram-se esperanças magnânimas
Legítimas
A realidade tombou
Com o seu manto da morte
Miséria
Fome
Cóleras…
A fome apertou
O pai protestou
O filho chorou
A mãe amparou
A fome matou
O pai protestou
A policia chegou
E o pai levou
O filho sem forças
Já não chorou
A mãe desamparada
Chorou !
Bruxelas, 20/12/96