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Channel: POETAS SIGLO XXI - ANTOLOGIA MUNDIAL + 20.000 POETAS: Editor: Fernando Sabido Sánchez #Poesía
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MARGARIDA FERRA [17.019] Poeta de Portugal

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MARGARIDA FERRA 

(Lisboa, Portugal 1977)
Tiene 38 años y dos hijos. Licenciada en Ciencias de la Comunicación de la Facultad de Ciencias Sociales y Humanas, Universidad Nueva de Lisboa. Trabajó en una pizzería, un periódico, una galería de arte contemporáneo en dos librerías y Ayuda Palace. Ahora trabaja en un grupo editorial, que no es el mismo en el que publicó en 2010 un libro con 32 poemas - tantos como los años tenían en ese momento. 

Debutó en la poesía con el libro Curso Intensivo de Jardinagem, en 2010. En 2013 publicó Sorte de Principiante, su segundo libro.



Nome comum: Jasmim-dos-Poetas

Percorria ao anoitecer os jardins 
da cidade à procura das flores
oficiais – sobem amparadas 
e perfumam com a memória 
do chá as ruas irregulares. 
Levava uma tesoura de unhas,
insuficiente e desnecessária porque
não colhia nada que fosse vivo.
Restavam-me frases livres,
páginas dobradas, cadeiras desiguais
e os pratos vazios deixados
aos gatos. 
O primeiro poema encontrei-o 
numa dessas buscas
debaixo da árvore maior,
no ferro que sustenta a copa,
preso com uma mola da roupa.



Nombre común: Jazmín - de – los – Poetas

Al anochecer, recorría los jardines
de la ciudad buscando las flores
 oficiales – suben amparadas
y perfuman con la memoria
del té las calles irregulares.
Llevaba un cortaúñas,
insuficiente e innecesario porque
no cortaba nada que estuviese vivo.  
Me quedaban frases sueltas,
páginas dobladas, sillas desiguales
y los platos vacíos
dejados a los gatos.
Encontré el primer poema
en una de esas búsquedas,
debajo del árbol más grande,
colgado de la copa,
con una pinza de tender.




Morada

Habitamos
uma casa quando
a sombra dos nossos gestos
fica mesmo depois
de fecharmos a porta.                                                                       



Morada

Habitamos
una casa cuando
queda la sombra de nuestros gestos
incluso después
de cerrar la puerta.

                                             
De Curso intensivo de jardinagem, 2010
Traducción: Verónica Aranda



Escreve sempre que precisares

Escreve sempre que precisares de me dizer 
que há gelo nas tuas mãos e nas paredes do frigorífico. 
Os legumes que trouxe ontem 
não sobrevivem a mais do que uma geada, 
muito menos nós.

Escreve sempre que precisares, podes 
dizer-me outra vez que nunca houve inverno,
que este ano não há verão,
que estamos aqui e não estamos porque não sabemos 
se somos nós ou se somos aquelas 
quatro pessoas que vão à rua agora, 
encontraram a porta certa.

Escreve sempre que precisares, faz 
uma lista de compras, uma lista de desejos,
anota todos os pedidos que deixaste 
em poemas atrasados.
Escreve sempre que precisares 
de mais um postal com selo e carimbo. 
Escreve sempre que riscares 
na tua agenda mais uma morada.

Sempre que eu precisar vais devolver-me
uma caligrafia rebuscada que não é a tua, 
curvas a mais que não fazias na letra d.
Já não há desses manuscritos, 
só eu e os carteiros aprendemos a decifrá-los
(e toda a gente sabe que nem isso é verdade).
Vai escrevendo. Sempre que eu precisar, 
as frases podem desviar deixas decoradas, 
repetidas como as mentiras,
demasiado gastas para serem inócuas.

Escreve em vez de costurares. 
Mesmo que soubesses, não há remendos suficientes,
arranhaste sem possibilidade de cura os joelhos, 
os cotovelos e as canelas 
(dançar sempre foi um antídoto fora do teu alcance).
Escreve que eu vejo nas tuas as minhas quedas,
os meus soluços nessas curvas 
a mais que não fazes na letra d:
as tuas linhas são rectas, verticais e justas,
as minhas letras são apenas caracteres.

Escreve sempre que puderes
só em vez de apenas,
recursos humanos em vez de 
resíduos urbanos. Talvez sejamos mais 
do que pessoas, temos tamanhos diferentes
e não servimos nos lugares que nos foram destinados.

Escreve sempre que precisares de uma porta
onde caibas, 
nunca trago chaves comigo.

in Curso Intensivo de Jardinagem (2010).





Curso intensivo

Os sapatos vermelhos
rasos e sem hesitação,
a mesma presilha do dia
do casamento,
as solas lisas depois de tudo.
Esse calçado e não
um par de sapatilhas forrado a cetim,
provavelmente os pés
arranjados lá dentro,
em pontas,
as fitas que deviam subir pela perna
a desfiarem-se já antes do laço seguro.

Os sapatos vermelhos
permeáveis a todos os passos
escolhidos às cegas.
Vermelhos, hoje mais,
são do jardim e das pedras
da calçada. Servem-me
ainda no primeiro dia de aulas.




Play

Não há na minha lista nenhum nome incompleto,
nenhum pacto sobrevivente,
nenhuma resposta extraviada.

Não há na minha lista manhãs suspensas,
discos em escudos, cobertos ainda pela embalagem.
Não guardo qualquer registo de encomendas adiadas,
pedidos de cliente,
sobras em caixas de plástico,
desejos pendentes de ano novo.

Não há na minha lista tampas
que cheguem para todas as memórias,
nem meia dúzia de colheres com que possa remexer o que ficou.
Não há na minha lista isqueiros normais.
Não me lembro de números de telefone antigos,
qualquer palavra desnecessária,
fotografias com mais de quinze anos.
Na minha vida sempre tive dois filhos.

Nasci com dois seres inteiros –
uma menina e um menino –
dentro de mim,
toda a minha lista acabou de se fazer há dez segundos

És tu, eu, nas polaroids que nunca disparámos da ravina
(este verso que podia ser escrito por ti),
as tampas das caixas de plástico,
talvez os teus livros,
os casacos,
e uma frase com a palavra xadrez
no lugar de um complemento.






Janela

Dias depois, ainda na cama,
não conseguia escolher a melhor saída,
que chão frio podia suportar os meus pés.
O peso das tuas costas, que estavam só
do outro lado, desceu até se somar
ao meu próprio peso sobre os meus pés descalços -
e eu sem saber a que parte da casa podia ligá-los.

Uma janela surpreendente, esquadria perfeita
agora à minha direita
e ar que entrou: talvez pudéssemos
de facto ser respiráveis.

A amanhecer ao longe um azul lento e claro.
Demasiado mais claro
em muito pouco tempo,
atrás da escola, não chegaria a cegar ninguém:
as nuvens mais leves, como os pesadelos,
resgataram antes as possíveis vítimas,
inocentes não declarados que circulam sem saberem
da sua condição ou destino.



Areeiro

O sinal vermelho, o carro
travado. À esquerda, a bomba de gasolina;
à direita, a gaiola equívoca.
Duram um minuto e meio,
a minha espera
e os contos que me visitam,
rápidos monogramas em ponto cruz
dessa louca sem nome.

Morou ali no tempo
em que a cidade acabava antes.
Gritava no corredor
que era um pássaro, nascia de manhã
com asas, as penas caíam-lhe à mesa.
Ao fim do dia, abria-se a porta
da varanda. Arrancou
e comeu todas as petúnias brancas.
Depois, o bordado caído
e os olhos atirados para o céu,
por onde hão-de passar estes aviões
agora. Presos: o tecido no bastidor e o ar no peito
(ao contrário daquele que ainda circula
– a única coisa que as grades não podem segurar).








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